Relato de uma amamentação
interrompida
1 ano de 2 meses de amamentação.
Em livre demanda. Associado ao maior apego que pude proporcionar ao meu
pequeno.
Desde que o Joaquim nasceu, a
amamentação se deu de forma muito livre e natural, para ambos. Ele foi ao peito
assim que nasceu, mamou bem, pega perfeita. Eu tive leite desde a primeira
mamada. Sofri alguns dos tropeços mais comuns do início da lactação: fissuras,
mamilos sensibilizados, uma pequena mastite no seio esquerdo, que foi curada
com muita ordenha e sem medicamentos.
Quando falo que levei a lactação
com leveza e liberdade, quero dizer que não estabeleci prazos, regras, ou nada
que não viesse da nossa demanda e da nossa vontade, de mãe e filho se
conectarem dessa forma tão sublime, carinhosa e poderosa que é a amamentação.
Um passo de cada vez, uma expectativa por vez. Primeiro os seis meses de
aleitamento materno exclusivo, que se estenderam até 1 ano praticamente, pois
até então o leite materno foi a principal fonte de nutrição que ele teve, visto
que a alimentação complementar não tinha uma regularidade da parte dele: as
vezes comia super bem. Aí passava dias sem o menor interesse na comida. Mas a
minha consciência tranquila por saber que o leite materno cumpria sua função de
principal fonte de nutrição.
Joaquim foi um bebe (e ainda é!)
muito ativo e esperto. Dormia pouco, mamava muito. Essa rotina de mamadas a
cada hora estendeu-se até 1 ano de idade, quando eu planejava, em seis meses
realizar um desmame noturno em busca de umas preciosas horas de sono.
Ainda estava no processo de
leitura e aprendizagem das técnicas, me habituando às técnicas de Gordon e da
Tracy (Soluções para noites sem choro), e planejando uma forma gentil e amável
de desassociar o peito do sono a partir dos 18 meses, quando descobri que
estava com papilomas no bico do seio.
Já fazia alguns meses que as
mamadas estavam sendo difíceis e doloridas e que eu sentia (e via) que algo não
estava normal. No entanto, o medo de uma ordem de desmame me fez ir protelando
uma situação que chegou ao limite. Quando as dores tornaram-se insuportáveis, e
meus mamilos muito feridos. Tirei algumas fotos e mostrei para duas amigas na
internet em busca de um conselho amigo. Foi quando percebi que deixei ir longe
demais. Vendo as fotos eu percebi que eu estava lutando para não enxergar o
óbvio: que eu precisava de tratamento.
Entrei em contato com a Simone do
Aleitamento Materno Solidário, descrevi a situação em que me encontrava, mandei
fotos e ela, muito amável e prestativa, me orientou a buscar um mastologista.
Abri o jogo com meu marido. Sofremos. Instalou-se muitos medos: do desmame não
planejado e da minha saúde.
Amamentava chorando de dor e com
a cabeça cheia de paranoias. Os médicos da minha cidade estavam lotados,
indisponíveis e em férias. Meu marido conseguiu encaixe em um mastologista de
outra cidade e fomos para lá. O diagnóstico: papilomas. A causa: um crescimento
desordenado de células. Tumor? Viral? Hormonal? Teria que operar e fazer a
biópsia. Pelo fato de que podia ser viral veio a orientação de desmame e também
de cirurgia.
Muitas e muitas conversas diárias
com a Simone. Que buscava informação e dividia o assunto com médicos e
especialistas amigos dela, e diariamente entrava em contato comigo para irmos
trocando informações.
Começamos em casa então o desmame
noturno inspirado na técnica de Gordon. Escolhi um horário, que era das 23 as
6, para que ele não mamasse. Ele ia dormir por volta das 20 horas, e acorda 2
ou 3 vezes até as 23 horas. Eu amamentei em livre demanda até esse horário. A
partir das 23 eu ia para o outro quarto e o pai tomava conta até as 6. Foram 6
dias nesse processo. No primeiro dia ele acordou, não chorou, mas resmungou e
reclamou uns 40 minutos no colo do pai até adormecer novamente, e acordava de
hora em hora. Os dias seguintes não tiveram padrão. Um dia dormiu cerca de 3
horas seguidas entre uma acordada e outra. E, outra noite acordou mais de 10
vezes em menos de 5 horas. As mamadas de dia continuaram normais, como era
muito colorido eu apenas conversava com ele, explicando que íamos diminuir, que
a mamãe precisava se cuidar e fazer um tratamento, que íamos trocar amor de
outras formas. Brincava muito com ele de dia. Sentávamos no chão, montávamos
lego, desenhávamos... Fiz questão de ser muito mais participativa nas
atividades, relegando a casa e outros afazeres para segundo plano. A noite eu
me despedia, e dizia que voltaria quando tivesse sol. No sétimo dia o pai pediu
arrego. Estava muito cansado e eu voltei para o quarto para cuidar do Joaquim.
Pensei que o plano iria por água
abaixo. Como iria praticar cama compartilhada e negar peito durante a noite?
Amamentei para dormir, e na próxima acordada o aconcheguei em cima de mim e
voltou a dormir. E assim foram as noites seguintes. Sem choro, sem traumas, sem
desamparo. Chegou a hora de ir diminuindo as mamadas diurnas. Limitei a
amamentação para o sono apenas. Uma para a soneca da manhã. Outra para a soneca
da tarde. E por fim, antes de dormir. E conversa, conversa, conversa... Falava
tudo para ele. Chorei, compartilhei meus medos e frustrações. E explicava que
não era culpa dele, e que tudo ia ficar bem. Até que o amamentei para dormir
numa sexta-feira a noite. Dormiu a noite toda. Acordou no sábado, tomou café da
manhã, fomos para a natação, e na volta dormiu no carro. A tarde, dormiu
durante o passeio de carrinho. E a noite foi passear na casa da avó e voltou
dormindo. 24 horas sem amamentar! Aliviava os seios com ordenha, com pouco
estimulo. Domingo chegou e aceitou a soneca no colo assistindo desenho. A tarde
passeou e dormiu no carro novamente. E não pediu mais para mamar. Quem se
sentiu desmamada fui eu.
Gente, não é fácil esse processo
unilateral de desmame. E a pior parte fica com a gente. Tive momentos
depressivos. Senti-me inútil, abandonada, sozinha, incapaz, doente,
frustrada... Ajudou desabafar com algumas pessoas de valor que tenho, desabafar
com a terapeuta (comecei a fazer terapia) e principalmente, desabafar com meu
filho.
Nunca imaginei ter que liderar um
processo de desmame nessa idade. Nunca imaginei que doeria tanto. Nunca
imaginei que sentiria tantas saudades.
Hoje Joaquim toma leite de aveia
3-4x ao dia como complementação à alimentação, sendo que uma dessas doses é
para dormir às 20 horas e outra entre 4-5 horas da manhã. Dorme ninado no colo.
Continuamos com a CC. Acorda a noite algumas vezes, me vê, se aconchega em meu
corpo e volta a dormir.
Fui ao médico recomendado desde o
início, que descartou a possibilidade de ser algo viral (alívio), faço a
cirurgia dia 30/10 às 14 hrs. Torçam por mim. :)
Obrigada a Simone, que angariou
ajuda de muitos especialistas para me ajudar, reunindo conversas virtuais entre
nós e que me proporcionou maior conforto com sua experiência e calma. Obrigada
Elisama e Stheffany Nering por ficarem mais de 1 hora comigo ao telefone, me
ajudando, de dando apoio e força. Teka,
Amanda, Pamela, Camilla, Ana, Karinne, Lara, Luciana, Talita, Viviane,
Patricia, Tiaia, Chênia... que também me deram força para levar esse processo
adiante.
lindo relato :~
ResponderExcluirme sinto honrada de ter participado de perto, ter visto todo o processo. imagino que não seja fácil.
autran ta com 21 meses e ainda mama em livre demanda. me pego pensando em desmame noturno e finalmente sinto isso que as mães tanto falam: o medo da mãe desmamada.